Solidão e depressão no topo

Outubro de 2017

Enquanto empregado operacional as pessoas desenvolvem relacionamentos muito estreitos e amigáveis por meio dos quais criam grupos que se encontram e praticam atividades comuns até mesmo fora da situação de trabalho. Logo pela manhã se encontram no cafezinho discutindo futebol, política e até, muitas vezes, criticando algum comportamento do chefe e da empresa.

Quando uma dessas pessoas é promovida, ela começa a ser excluída desse grupo; sua atividade mudou. Agora ela pertence ao grupo de supervisão, grupo dos chefes. Não se reúne mais no cafezinho e com pouca frequência participa de alguma atividade fora do trabalho com sua equipe. Precisa participar de reuniões com outros supervisores, com os quais nunca manteve muita intimidade e com quem mantem apenas um relacionamento profissional.

Aos poucos, esse sujeito vai se isolando em sua sala, vai perdendo a confiança nas pessoas a sua volta, a ponto de executar tarefas operacionais apenas por não acreditar que os empregados que fazem parte de sua equipe possuam capacidade para fazê-lo. Acumula um volume tal de trabalho que mal tem tempo para fazer suas refeições de forma calma e adequada.

Na medida em que sobe na escala hierárquica, desce em sua performance geral. Perde a saúde. Torna-se um sujeito só.

Com muito medo de errar e ser demitido, esse sujeito de torna depressivo a ponto de protelar por semanas uma decisão que poderia tomar em minutos.

Esse quadro simples, considerando casos graves que temos oportunidade de verificar no dia a dia, em grande parte é a consequência de um modelo extremamente competitivo de relacionamentos dentro das organizações. Embora se fale muito em cooperação entre departamentos, trabalho em equipe, ajuda mútua, etc…, o que a realidade oculta mostra é um ambiente altamente competitivo, produzindo grupos organizacionais com resultados apenas “satisfatórios”. Ambiente incentivado e mantido pelos próprios participantes dessa rede organizacional.

Até onde vamos nesse sistema é muito difícil de prever porque o mundo todo pratica a competição. O vendedor que consegue maior volume de vendas ganha os prêmios. Os outros ficam com inveja.

É preciso gerenciar de forma diferente, realmente liderar, para criar pessoas contributivas e cidadãs.  Trazer as pessoas, principalmente operacionais, para a tomada de decisões. É preciso arriscar. Combinar procedimentos e deixar que as pessoas os executem. Proporcionar informações de feedback honesto, claro e objetivo, para que cada pessoa possa avaliar suas próprias atitudes. É preciso orientar as pessoas a medirem suas próprias performances e sentirem suas alegrias ou ansiedades com essa medição.

Enfim, aplicar um modelo mais claro e científico de gerenciar organizações utilizando a convivência como forma de melhoria de performances. Convivência que produz um modelo realmente cooperativo capaz de produzir realizações pessoais e corporativas excepcionais!

 

Pense nisso!

 

Lauter F. Ferreira
Psicólogo CRP-06/09138-0
Autor do livro: “Construindo Equipes de Alta Performance”
Ayres & Ferreira Ltda.
A Ciência do Comportamento Aplicada – Pessoas e Organizações
lauterferreira@ayreseferreira.com.br
www.ayreseferreira.com.br