05/02/2021
No cenário em que vivemos, e sabemos, vai evoluir ainda mais nessa direção, com enormes possibilidades de aquisição de informações de todos os tipos, verdadeiras ou falsas, de todas as partes do mundo e de todo tipo de gente, tomando grande parte do tempo disponível das pessoas, tenho percebido um nível de ansiedade e angustia cada vez mais intenso, aumentando a tendência em deixar procedimentos científicos de lado, “pular etapas” e tentar alcançar realizações efetivas no menor espaço de tempo possível. Poucas vezes isso acontece satisfatoriamente. Na maioria das vezes consegue-se um resultado satisfatório de imediato, mas grandes perdas e frustrações em seguida.
Tenho observado muito esse mecanismo no que se refere à questão da gestão e liderança em ambientes organizacionais, principalmente em empresas com finalidades lucrativas, onde mais trabalho.
Pessoas genuinamente desejando ser respeitadas como líder, mas rapidamente, “de um dia para o outro”, simplesmente por ter sido promovida a um cargo que exige tal habilidade; ou diretores, que promovem alguém a uma posição de liderança acreditando que, por seus sucessos operacionais, será um grande lider… Só pelo seu exemplo! Também rapidamente… “De um dia Para o outro”.
Ilusão! Resultando em altos patamares de frustração, ansiedade e depressão em todos os envolvidos. Uma organização medíocre.
Assim, decidi lembrar algumas descobertas da ciência do comportamento no que se refere a esse assunto, com o objetivo de orientar os esforços de todos que pretendem dirigir equipes para alta performance.
– Em uma definição mais rápida, liderança é um conjunto de comportamentos, praticados por um ou mais indivíduos, capaz de incentivar, influenciar, inspirar e comandar um grupo de pessoas na busca por objetivos que tragam benefícios a todos.
– Comportamento é tudo o que as pessoas fazem: pode ser observado, registrado, mensurado e modificado o tempo todo. Dessa forma “todos” os comportamentos de um líder são percebidos, raciocinados, provocam emoções agradáveis ou desagradáveis, produzem desejos e determinam os comportamentos futuros de seus seguidores. Sem exceções!
– Ninguém nasce com comportamentos de líder instalados no HD interno. O conjunto de comportamentos característicos da “liderança” é desenvolvido pelas experiências reais vividas durante toda a existência das pessoas.
– Algumas pessoas viveram experiências nas quais aprenderam, incorporaram, intensamente os comportamentos de liderança desde a primeira infância. Hoje os praticam com desenvoltura e competência. Normalmente essas pessoas estão fora das organizações com fins lucrativos. Ou criaram, e agora lideram, suas próprias empresas!
– Muitas, por uma série de motivos, tiveram poucas oportunidades de experimentar esse conjunto de comportamentos, incorporando ao longo da vida maior volume de atitudes de seguidor do que de líder. Hoje praticam muito mais esse padrão, esperam ordens a serem seguidas, e sentem certo temor quando incentivadas a falar suas ideias e assumir responsabilidade em equipes.
– Outras, ainda, também por uma série de motivos, viveram durante muito tempo em ambiente que incentivaram comportamentos pouco responsáveis e, de certo modo, até descomprometidos. Hoje aceitam qualquer trabalho, fazem o “feijão com arroz” e se contentam com o que colocam no bolso no final do mês. Desdenham orientações de seus gestores.
– Independente de seu histórico de experiências de vida todos podem incorporar comportamentos de liderança, visto que todos os nossos comportamentos são aprendidos ao longo do tempo e estamos aprendendo novos comportamentos continuamente.
– O que faz com que alguém siga, pratique comportamentos orientados por outra pessoa, fazendo dessa um líder, é a visão, a possibilidade de conseguir benefícios a si mesmas como fruto dos resultados efetivamente conseguidos. Os indianos seguiam o que Gandhi orientava porque viam a possibilidade conseguir uma vida melhor.
– Benefícios desejados podem ser algo satisfatório conseguido, ex. um bônus por um resultado contributivo alcançado, ou a retirada de algo desagradável, ex. a demissão de algum empregado molestador e ameaçador.
– Todas as pessoas são diferentes entre si. Não há nenhuma pessoa igual a outra no mundo todo. O melhor líder é aquele que consegue observar seus seguidores em detalhes, identificar suas melhores habilidades, necessidades e desejos. Aproveitando cada característica, de cada pessoas, nas diferentes situações reais que resultarão em melhores resultados e benefícios a todos.
– A melhor forma para aprender, incorporar, habilidades de liderança é identificar quais são esses comportamentos, pratica-los e observar suas consequências. Possibilitando a coragem de modificar seus próprios padrões de conduta futura.
Para encerrar, não me estender e deixar assunto para outros textos, segue um texto de “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel:
“… quando se conquistam Estados em uma província de língua, costumes e usos diferentes, aqui está a dificuldade e aqui é necessário ter muita sorte e muita habilidade para manter o controle. Um dos meios mais eficazes seria que a pessoa que o conquista vá habitar lá. Estando presente é possível ver nascer as desordens e logo remediá-las. Não estando, só são vistas quando estão grandes e já não há mais remédio”.
Pense nisso!
LAUTER F. FERREIRA
AYRES & FERREIRA LTDA.
Psicólogo – CRP-06/09138-0
Autor dos livros “Construindo Equipes de Alta Performance”,
“Alta Performance: Sete Forças Sob Sua Pele”.
lauterferreira@ayreseferreira.com.br
www.ayreseferreira.com.br