Amarra Invisível

Julho/2009

 

Normalmente ela é a um dos fatores que diferencia uma pessoa frustrada e neurótica de outra feliz e bem realizada.

Luiz e Marcelo eram encarregados de setor em uma grande oficina mecânica. Um cuidava do setor de reparos mecânicos e o outro do setor de elétricos. Como bons colegas que trabalhavam oito horas de seus dias juntos, almoçavam juntos quase todos os dias e conversavam muito. Tanto que falavam não só de trabalho, mas de todos os assuntos, até mesmo questões mais particulares. Foi numa dessas ocasiões que Marcelo decidiu tocar no assunto.

– E se a gente abrisse nossa própria oficina?!

Luiz tomou um susto. Já havia pensado nisso antes, mas achava muito difícil. Todas as vezes que pensava nos riscos que teria de assumir um frio invadia seu estômago e ele voltava a pensar nas vantagens de continuar no emprego.

– Mas risco tem em todas as coisas. Até esse emprego corremos o risco de perder. – Argumentava Marcelo.

– Mas aqui o risco é menor. Somos encarregados. Até saírem todos os mecânicos nós permanecemos.

Enquanto essa conversar se repetia Marcelo começou a fazer contas. Encontrou um local mais parecido com o que achava ideal e calculou seu valor. Calculou o valor das ferramentas, do mecânico extra que precisaria etc. Calculou suas economias e quanto precisaria a mais. Até que um dia apresentou todo ao Luiz.

– Se a gente fizer um bom acordo de saída daqui e juntarmos minhas economias com as suas conseguimos abrir a oficina! – Comentou com alegria.

Luiz estremeceu nas pernas. Tinha feito uma economia sim, mas era para eventuais necessidades de saúde, reformar a casa ou até trocar o carro. Pensar em arriscar todo esse dinheiro em um negócio lhe deixava com palpitações e dor de barriga. Afinal, o que sua esposa iria falar?

– Não dá Marcelo. Acho muito arriscado esse negócio. Tem um monte de oficinas por aí. A nossa seria apenas mais uma. Vai ser muito difícil encontrar clientes.

– Difícil será. – Argumentou Marcelo. – Mas temos muitos amigos, podemos fazer propaganda. E ofereceremos um diferencial proporcionando concertos mecânicos e elétricos em um só lugar!

Luiz estremeceu de novo diante do entusiasmo de Marcelo! Sentia-se paralisado.

– Mesmo assim, acho que não dá.

Marcelo percebeu que seu amigo estava desistindo desse negócio.

– É, acho que você tem razão. – E encerrou o assunto.

Mas não deixou de continuar seus cálculos!

Um dia Marcelo se despediu de Luiz. Tinha feito um acordo com o dono da oficina e pediu sua demissão. Emprestou um dinheiro do sogro, alugou um barracão e abriu sua oficina!

Demorou a pegar, mas Marcelo e seus mecânicos faziam um bom trabalho, aos pouco um cliente foi indicando outro e a oficina prosperou.

Em uma festa de aniversário de um amigo comum Luiz e Marcelo voltaram a se encontrar. Conversaram muito sobre seus trabalhos colocando a conversa em dia.

Luiz foi para casa com um frio na barriga. Seu amigo ganhava o triplo do que ele ganhava na oficina, tinha agora três empregados que faziam o trabalho operacional, estava pensando em ampliar a sua oficina e tinha reserva em dinheiro para fazê-lo. Tinha carro do ano, embora ainda vivesse na mesma casa!

Ele continuava como encarregado do setor de mecânica.

O medo amarra! A coragem liberta!

 

Lauter F. Ferreira
Ayres e Ferreira Ltda.
Melhorando a Performance Humana
lauterferreira@ayreseferreira.com.br